segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

[Por Trás do Gol] Perguntas

Aparentemente teria mais tempo para escrever por aqui e até cabeça mais livre para isso, mas está ocorrendo quase o inverso... Enfim, o momento é ótimo para as atividades que escolhi para a minha vida e esta parada estratégica é para tratar de um tema que perturbei colegas e amigxs há, pelo menos, 2 anos e meio.

Não me entra na cabeça que haja riscos para crianças, ou quaisquer pessoas, ir a estádios de futebol. Os riscos são os mesmos, ou até menores, de sair às ruas todos os dias para trabalhar, estudar ou praticar qualquer outra atividade. Os cuidados de saber onde e como ir, quais os cuidados ter, em nada são diferentes. Vejo sempre crianças, até mesmo antes de começar a andar, ir a estádios com os pais.

Para mim, especialmente depois de passar a ir sozinho aos estádios, a partir da minha ida ao Rio Grande do Sul, a vontade sempre foi a de mostrar às outras pessoas, crianças especialmente, o quanto pode ser um evento interessante; poder passar um pouco daquilo que sinto por conta do futebol, o porquê uma pessoa que nem eu consegue se sentir mais livre nestes espaços. Como não tenho filhxs - que iriam ou irão logo cedo -, restava perturbar quem eu conhecia.

Depois de tanto tentar lá e aqui, consegui convencer uma amiga a levar o filho, de cinco anos, ao Rei Pelé. Para a minha surpresa, ela foi e ainda mais uma outra amiga junto. Pela primeira vez percebi como é feita a revista nas mulheres e retiro a opinião que é menos invasiva que a sobre o homem. Fora a fila para isso, porque são menos policiais mulheres que homens também neste espaço.

A minha maior preocupação nem era tanto com o jogo - também, é claro -, mas que quando conseguisse levar uma criança ao estádio ela não pedisse para sair durante a partida por achar aquilo tudo muito chato. Olha que em jogo do CSA, pelo time em campo, essa chance é grande. Apesar que os gritos da torcida e o espaço chamam a atenção por serem diferentes do que se vê normalmente.

PERGUNTAS
Ele passou o primeiro tempo inteiro perguntando sobre onde estava o juiz, se a torcida tinha gritado porque tinha sido gol, quem ganharia o jogo ou quem eu queria que ganhasse o jogo,... Quando conseguimos entrar já estava 1 a 0 para o CEO. Ele perguntou onde estavam os pontos e eu mostrei o placar eletrônico. "Mas, e os pontos", voltou a perguntar, insatisfeito em ver apenas 1 e 0 na tela. "Ali está um para o CEO e zero para o CSA. Se sair mais gols aí muda e ainda colocam a palavra gol embaixo". Como já tinha feito a piada do céu com o CEO ("Olha o céu aqui em cima também"), sobrou mostrar no placar que "se colocar o A fica CASA".

Momento épico do primeiro tempo só a bolada que o bandeirinha levou, aparentemente em um lugar problemático, que fez o jogo parar por alguns minutos. Antes, ele já havia me perguntado quem era aquele homem segurando uma bandeira ao lado do campo. Depois, se ninguém ia gritar "bandeirinha, bandeirinha!". Expliquei que os homens de preto geralmente só levam xingamentos.

No intervalo, conseguimos um lugar melhor. Graças a ideias que só quem gere o futebol (e a segurança) por aqui pode explicar, optaram por isolar a organizada ao lado das cadeiras, com 50 a 100 pessoas ocupando um espaço para 2 mil e deixar mais de 6 mil, provavelmente, nas grandes arquibancadas...

Durante o período, cheerleaders do CSA entraram em campo e ele perguntou se elas iriam jogar. Com a negativa, perguntou o porquê de não ter mulher jogando...

Disse a ele que o Palmeiras estava jogando no mesmo horário - o pai mora perto em São Paulo e também é palmeirense - e ele chegou a achar por alguns instantes que o time de verde que voltara no segundo tempo era o Palestra e não o CEO, isso depois de me perguntar algumas vezes quando o Palmeiras e o Corinthians apareceriam no gramado e eu dizendo que estavam jogando lá perto da casa do pai dele.

De início estranhou a gritaria de todo mundo ali, perguntou o porquê de ninguém ficar em silêncio. Acho que desde cedo nos acostumamos a estar em locais em que devemos falar baixo ou não falar. Não à toa que naqueles que não há isso, extravasemos tanto e quem não está acostumado acabe achando estranho.

Quase não olhou para o gramado, preferindo perguntar e brincar, especialmente no segundo tempo. Como de praxe, a torcida do CSA não perdoava nas críticas e xingamentos. Ainda bem que ele não percebia o que estava sendo dito e começou a gritar também para acompanhar o coro em alguns momentos. Com o fim do jogo sem gols, os torcedores começaram a sair. A paciência da torcida diminuindo e a cada chance perdida uma pancada na cadeira. Ele começou a pular em algumas delas para seguir o ritmo, só que empolgado.

No fim, a saída antes dele e delas e o gol do CSA na última jogada da partida. Confesso aqui e agora que me segurei o quanto pude, até porque desde o Rio Grande do Sul que o meu interesse aumentou para as coisas para além do campo, ontem ainda mais. E, claro, como xs milhares que ficaram até o apito final, o grito de gol sofrido saiu gigante.

O CSA não jogou bem, não ganhou, mas ao menos 3 pessoas podem dizer depois deste domingo que foram a um estádio de futebol e graças a mim. Se gostaram ou não, se voltarão a um ambiente de gritaria e vários xingamentos, eu não sei. Mas ao menos tiveram uma experiência diferente.

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