domingo, 22 de julho de 2012

[Por Trás do Gol] Um dia especial, dia de sentir saudade

Na semana passada, na ligação habitual de Maceió, o meu pai me disse com uma alegria daquelas que já tinha comprado o ingresso para o jogo do CSA contra o Itabaiana, tinha até comprado um rádio novo "porque não dá para ir ao jogo sem rádio", disse-me ele. Desde que voltamos a morar na capital alagoana, a única vez que ele não foi ao Estádio Rei Pelé comigo foi no Corinthians X Coritiba, pela Copa dos Campeões de 2000. Dali até março do ano passado, pelo menos uma vez por ano, íamos juntos. Este 22 de julho de 2012 acaba marcando um paradigma também na minha vida.

Assim que ele me disse me deu um baque. Devo até ter dito que se eu estivesse lá eu também iria. Ele prometeu ligar para mim do estádio, talvez para relembrar a companhia de sempre para assistir aos jogos de futebol, fossem em frente à TV de casa, no Batistão (Aracaju), no João Hora Filho (estádio do Sergipe), no Presidente Médici (Estádio do Itabaiana) ou no querido Estádio Rei Pelé, onde vimos alguns clubes nacionais e até a Seleção brasileira, mas o mais importante era ver os jogos do Centro Sportivo Alagoano.

Durante a semana, já tinha definido como seria este texto, afinal ele tinha que sair. A emoção veio em todo o momento, em cada frase que eu pensava em colocar nele. Futebol sempre foi o amor da minha vida, em meio à paixão que os esportes causam em mim - podendo até ser curling. Acho que o meu pai acabou se apaixonando por esportes e sendo mais torcedor por culpa minha, ainda que eu, do contra desde criança, tenha optado nacionalmente pelo arquirrival do time que ele tinha simpatia.

Palmeirense filho de corintiano, lembro das nossas apostas de refrigerante antes de cada clássico, dele se segurando para comemorar os gols do time dele contra o meu porque eu não suportava perder, era capaz de "matar e morrer" pelo Palmeiras.

Em Alagoas, não teve jeito. Acabei herdando a torcida pelo CSA, até mesmo porque passei dos 2 aos 11 anos e muito em outra cidade e a única referência do futebol alagoano era em casa. Além disso, se a década de 1990 foi a da parceria Palmeiras-Parmalat, foi também a de Catanha-Wilson e, depois, do tetracampeonato estadual, com direito à final da Conmebol em 1999.

A minha relação com o Rei Pelé é desde o berço. A minha avó materna morava na Rua José Marques Ribeiro (Rua dos Pescadores), que é paralela à Avenida Siqueira Campos, onde fica o Estádio Rei Pelé. Além disso, quando eu nasci os meus pais e a minha irmã moravam nesta casa, ficamos neste endereço por um ou dois anos, não sei bem.

A volta a Maceió não foi fácil para mim e, para piorar, como contei no texto sobre o Palmeiras, o CSA também não ajudou. Foram três vice-campeonatos estaduais seguidos e, em 2003, o rebaixamento. Na Segundona de 2004, continuamos lá e no ano seguinte, mesmo após eu prometer não torcer mais para o Azulão, estávamos lá no empate com o 7 de setembro por 0 a 0. O ingresso foi o meu presente de aniversário.

Nos últimos anos, o meu maior orgulho foi poder pagar o ingresso dele em todas as partidas. Geralmente ele ia lá, comprava o ingresso e nós íamos a pé para o Rei Pelé, que fica a 20 minutos de casa. Da última vez foi tudo diferente, por isso que optei por publicar o texto que escrevi sobre a minha despedida do estádio algumas horas atrás.

Mesmo com a excelente campanha até o jogo de hoje, duas vitórias e um empate, sendo dois desses jogos fora de casa, eu ainda não tinha podido ouvir as partidas nesta Série D. Fiz isso hoje mais como uma forma de lembrar que o meu pai também estava acompanhando. Esqueci televisão e fiquei acompanhando o Palmeiras no minuto a minuto.

Ontem ele me disse tudo de novo que ia ao estádio, mas que não ia levar o celular para não ficar preocupado em ter coisas para segurar, mas assim que voltasse ligaria para mim para falar como foi a partida. Na verdade, mesmo sem ir ao estádio neste período de 1 ano e 4 meses desde que vim para São Leopoldo, meu pai é uma espécie de correspondente do futebol alagoano, informando-me todos os sábados sobre as partidas de lá, debatendo comigo a situação dos times locais.

Como time de "sofredor" típico, o CSA marcou um gol logo aos seis minutos, com Ronaldo, após ter tido um gol de Paulinho Macaíba anulado. O que parecia uma tarde/noite tranquila para os mais de oito mil torcedores lá presentes, foi de sufoco. No primeiro tempo, o Itabaiana conseguiu espaços, mas parou no experiente goleiro Flávio, o paredão de 41 anos e com títulos nacionais por Atlético-PR, Paraná e América-MG. O Azulão até conseguia contra-ataques, mas era ineficiente nas finalizações.

No segundo tempo, um jogo mais morno. O sufoco veio aos 46 do segundo tempo, quando, após uma cobrança de falta, o jogador do Itabaiana cabeceou na trave e perdeu o rebote. Ufa! CSA 1 X 0 Itabaiana. 10 pontos em 4 jogos, liderança isolada e classificação para a próxima fase dependendo praticamente apenas de uma vitória.

Meu pai já ligou para dizer como foi o jogo. Perguntei a ele como tinha sido ir ao estádio sozinho. Ele me disse que foi bem estranho não ter ninguém para conversar, poder xingar sem ter problemas com o torcedor ao lado. Fazia uns vinte anos que ele não ia ao estádio sozinho. Reafirmei que este é um momento importante para nós dois e ele disse que deve ir para o jogo do domingo que vem, contra o Sousa-PB.

Este ano passei a "perturbar" alguns amig@s/colegas para que levassem os filhos aos estádios, independente de terem quatro ou seis anos, se acreditavam que era um lugar seguro ou não. Já vi pai levar criança de um ano no meio de torcida organizada! Peço desculpas caso tenha pressionado em algum momento, mas é que a minha excelente relação com o meu pai sempre foi baseada nisso, na parceria para muitas coisas, principalmente para o futebol, fosse ralando os pés no quintal de casa ou num corredor estreito após o trabalho, ou vendo as partidas. Como eu não tenho filhos para manter o legado, creio não ter condições para isso pelos próximos anos, acabo por tentar mantê-lo através dos outros, enfim.

Termino estas linhas com lágrimas quase caindo do rosto e com a certeza da previsão que eu fiz ao terminar o texto do dia 05 de março de 2011:


Só me restar lembrar as alegrias, tristezas, xingamentos, gritos, comemorações e comentários realizados ao longo dos últimos onze anos em companhia, na maior parte das vezes, do meu pai, a quem com orgulho pago o ingresso desde o ano passado. Para o Rei Pelé sempre fomos a pé e na maior parte desse tempo minha avó materna morava numa rua atrás do estádio.

Talvez por causa disso, o Estádio Rei Pelé sempre tenha representado para mim mais que uma obra arquitetônica, era o que fazia da nossa relação de pai-filho aquilo que deveria ser "clássico": os dois jogam juntos em casa, assistem os jogos pela TV e vão ao estádio juntos. 

Os jogos no Rei Pelé farão falta. O CSA fará falta, por mais tristezas que tenha me dado. O meu pai assistindo os jogos comigo, acima de tudo, fará falta...

2 comentários:

  1. Emocionante. Eu, como não tive a figura paterna do lado, devo a paixão eo futebol e ao CSA à minha mãe. Sorte que a minha que ela também é apaixonada pelo clube e por futebol. Podia perder momentos como no Palmeiras x Flamengo da semifinal da Copa dos campeões, quando eu e ela torcemos (e comemoramos a classificação nos pânaltis) pelo Palmeiras no meio da torcida do Flamengo. A ida ao estádio trouxe realmente momentos únicos.

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  2. Foi difícil não chorar ao ler este texto, passou um filme na minha cabeça meu querido irmão. Imediatamente peguei o telefone e liguei para o painho para ele ouvir a narração do texto, o mesmo também não conteve as lágrimas e falou com orgulho de vc!!!
    Estamos felizes por suas conquistas!!!!

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