sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Dez anos de Maceió (ou "Quero ir para casa")

Manhã de sábado. Dali a poucos minutos, parte da família viajaria. Não que fosse algo incomum, afinal o percurso Aracaju-Maceió era feito quase que de quinze em quinze dias. Porém, desta vez era diferente, quase que definitivo. Significava nunca mais voltar ao que outrora fora o lar.

O filho mais novo, no que é possível para alguém com 11 anos, despede-se de cada cômodo da casa, como se fossem pessoas que deixara ali após uma convivência de tanto tempo. Por mais que voltasse uma vez ou outra para a cidade, sabia que nunca mais veria sequer a frente da residência - verde com calçada vermelha e portão azul.

Nada de garagem para jogar bola sozinho, do quintal para rachar os dedos nas sextas à noite em jogos com o pai. Nada dos corredores para andar de bicicleta passando por obstáculos ou para correr atrás do cachorro - com uma sandália na boca. Nunca mais estaria ali.

E pensar que um pouco mais de um ano antes poderia ter ocorrido algo que evitaria tudo aquilo. Por pouco a ligação material da família com a cidade natal seria vendida. Mas não foi. E o que importaria? Nem mesmo sete ou oito meses antes daquele 8 de janeiro de 2000 havia a decisão da volta a Maceió. Talvez até fosse impensável.

Mas o tempo passa, algumas pessoas nascem e outras morrem, mas geralmente a situação só "pesa" mesmo quando chega ao fim alguma vida próxima - e como, por infeliz coincidência, eu sei disso neste momento. Tudo muda.

Por mais que dissesse que quando tivesse idade suficiente se mudaria para Maceió para cursar Jornalismo por lá, a mudança era muito cedo e, provavelmente, não tentaria essa aventura de morar na casa da avó ou de tias.

Além disso, viver quase dez anos num local é criar apego o suficiente para não querer sair de lá. Por mais feias que fossem as praias sergipanas, por mais feia e pequena que fosse Aracaju, o garoto se sentia parte dela. Por mais que fosse tímido, tinha a família de amigos que eram mais amigos que a própria família.

Mas já não adiantava mais. A escolha havia sido feita pelos pais e mesmo qualquer resmungo - e foram muitas reclamações depois - não adiantaria nada. Bastava agora mudar, da mesma forma que aconteceu com os móveis, com o cachorro, com a família.

O passado não daria facilidade nenhuma. Pelo contrário, seria uma vida nova. O que significaria, na opinião dele, uma mudança de atitudes. Aquele menino estudioso, tímido, mas chorão e mimado para caramba tinha que ter uma postura melhor.

Dez anos já se passaram daquele dia e a criança virou adulto - outra porcaria que o tempo nos traz. Individualmente, o crescimento - não só na altura - foi imenso. As responsabilidades assumidas no fazer parte dos problemas financeiros da casa, os próprios problemas financeiros antes inimagináveis, em termos de estudo então, nem se fala. Entretanto, foram principalmente os problemas de ordem de saúde familiar que o fizeram se desenvolver.

E essas problemas familiares...

(Antes de qualquer outro comentário, é bom que se explique que a partir de agora se entende família como as pessoas com laços sanguíneos que moram com ele; o resto é parente - que enche bastante a paciência! Você só sabe o quanto podem ser insuportáveis quando está mais perto deles.)

Hoje, 08 de janeiro de 2010, o garoto, agora um rapaz de 21 anos, continua palmeirense - sem o fanatismo daquela época -, tornou-se torcedor azulino de fato - e como isto o fez/faz sofrer. Os exemplos da vida paterna o transformaram em alguém sem qualquer vontade de estabelecer amizades, um grande chato.

Enfim, não posso garantir que o rapaz estará nesta cidade nos próximos dez anos - mal posso garantir que estarei vivo amanhã, imagina garantir que alguém continuará em Maceió -, mas é certo que ao longo dessa década se pegou muitas vezes pensando na frase "quero ir para casa" mesmo não quando não tinha motivo objetivo algum para isso.


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