domingo, 30 de junho de 2013

[Por Trás do Gol] "Eles são os favoritos"

Creio que depois de 1958 é a primeira vez que o Brasil não chega para uma partida como favorito. Ainda mais quando esta é numa final de torneio oficial, quando até aqui o otimismo em torno do time cresce bastante, e em território brasileiro. Provavelmente até mesmo na Copa do Mundo de 2010, um enfrentamento brasileiro contra a Espanha traria como favorita a seleção canarinha.

Do último confronto com a Espanha, em 1999, muita coisa mudou. Enquanto o Brasil seguiu a trajetória de finais seguidas com o título em 2002, e, mesmo com altos e baixos, ganhou duas Copas das Confederações seguidas (2005 e 2009) chegando aos mundiais como um dos maiores favoritos; a Espanha finalmente se consolidou como uma das forças do futebol mundial. Mais que isso, hegemonizou, com dois títulos europeus seguidos e uma Copa do Mundo no meio, com o tiki-taka tornando-se referência de como jogar futebol, técnica e taticamente.

Ao Brasil, restou a reconstrução de um time envelhecido de 2010 para duas gerações depois, já que Kaká, Robinho e Ronaldinho não vingaram. Sob os ombros de Neymar e Oscar, na casa dos 21 anos, ficou a responsabilidade de chamar a partida. Enquanto o primeiro quase que sempre gerou esta expectativa, e só a vem cumprindo na Copa das Confederações deste ano - ainda que mais objetivo que o normal -, o segundo conquistou o seu lugar dentro de campo no ano passado, mas com o cansaço se refletindo neste torneio FIFA.

Uma das maiores comparações que podem explicar o porquê do favoritismo espanhol para este domingo está no comando técnico. Vicente Del Bosque assumiu a seleção espanhola após a conquista da Euro de 2008, mantendo-se no cargo desde então, e também aprimorando o tiki-taka, que tem em campo o comando de jogadores do nível de Xavi e Iniesta.

O Brasil tinha Dunga até 2010, passou para Mano Menezes, após supostas desistências de Felipão e de Muricy Ramalho. Mano ficou até o ano passado e caiu quando ninguém imaginava, já que o time, com Oscar como o meia articulador, dava cara de um jeito de jogar. Felipão assumiu com a proteção de Parreira no comando técnico, muito pelo peso simbólico de ambos terem sido os últimos treinadores campeões do mundo do Brasil.

Verdade seja dita, a não ser que ocorra uma tragédia amanhã - uma goleada primorosa espanhola -, Felipão se mantém tranquilamente como técnico brasileiro até a Copa do Mundo, sem maiores cobranças. Na Copa das Confederações, reclamações à parte sobre o Hulk como titular, conseguiu montar uma seleção e uma visível forma de jogar. Ainda que haja falhas em determinados momentos, até mesmo porque o conjunto que os espanhóis têm, com tempo junto na cancha, nós ainda não temos - nem temos um Barcelona para juntar a maioria dos nossos titulares durante todo o ano.

Dos quatro jogos da Espanha, vi dois por completo (Uruguai e Nigéria) e a semifinal a partir do final do primeiro tempo. Contra o Uruguai, o time teve o melhor tempo até aqui, dominou completamente os nossos vizinhos, mas só marcou um gol. Na segunda etapa, tiraram o pé, marcaram outro gol e ainda sofreram um de bola parada no final, que gerou certa pressão para os minutos derradeiros. As duas outras partidas foram bem diferente. 

Por mais que a manutenção da posse de bola fosse superior, está aí o Bayern de Munique para ensinar-nos que isso só não é o suficiente. Contra a Nigéria, um golaço com o selo Barcelona de qualidade no início da partida e o time passou a se poupar "para evitar a fadiga". A Nigéria só não fez gols porque deve ter alguma mandinga para equipes que vestem verde e branco ainda em vigor no território brasileiro. Foram os 3 a 0 mais enganosos deste torneio. 

Contra a Itália, então... Se no ano passado todo mundo esperava uma final disputada, quando mais o tiki-taka foi criticado, por atuações burocráticas, e veio um 4 a 0, este ano foi o contrário. A Itália aproveitou-se do ponto fraco da marcação espanhola, a cobertura das laterais, e chegou a dominar a primeira etapa. Depois, o jogo se igualou e foi até à prorrogação com as duas seleções tendo chances de marcar.

Portanto, se o Brasil ainda tem muito o que jogar junto - e é vergonhoso imaginar que só terá duas ou três partidas após a Copa das Confederações -, a Espanha não é o time imbatível que tanto propagaram. Ô mania de esquecer que a imprevisibilidade é a marca e a graça do futebol!

Por fim, Maracanã por Maracanã, que as lembranças de amanhã sejam das "Touradas em Madri" do dia 13 de julho e não do Maracanazzo do dia 16.

*A frase que dá título ao post é de Neymar, e o desenho de Dálcio Machado.

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