sábado, 29 de junho de 2013

Mais um golpe na cultura em Alagoas


Era dia 30 ou 31 de janeiro de 2007. Não lembro exatamente. Entrava numa das salas do Cine Cidade pela primeira vez, para ver "O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias". Primeira e única. A partir do dia 1º de fevereiro, Alagoas perdia duas das suas cinco salas de cinema existentes, todas na capital Maceió. Além disso, perdia um importante espaço alternativo a blockbusters. Revivemos tal situação agora.

O Centro Cultural SESI, com um teatro, uma sala de cinema, espaço para exposições de obras de arte e um espaço para café ocupando o que antes foi o Cine Art Pajuçara, num prédio defronte à praia, foi fechado oficialmente pelo Serviço Social da Indústria (SESI) em Alagoas. 11 profissionais, incluindo Marcos Sampaio, coordenador do espaço, foram demitidos.

O Centro conquistou importante espaço na cultura alagoana ao longo de seus 9 anos de existência tanto pelos filmes que passavam por lá, como também pelas exposições e peças. Mas dá para destacar a série de eventos ligados aos cinéfilos, como mostras dos mais diversos tipos e o grande sucesso , o "Corujão", que exibia filmes do final da noite ao início da manhã, intercalados por música e entrevistas a cineastas, produtores e atores. No fim, um café da manhã era oferecido a quem aguentava a jornada.

EXPLICANDO
Após a tragédia na Boate Kiss, em Santa Maria-RS, como ocorreu no resto do país, em Alagoas houve uma força-tarefa para fiscalizar a situação de espaços dirigidos a grandes públicos. Os cinemas não ficaram de fora - agora com dois shoppings com multiplex. Foram fechadas as salas do Pátio Maceió, do Shopping Farol e do Centro Cultural SESI. Apenas o cinema da rede Kinoplex (Grupo Severiano Ribeiro), no Maceió Shopping (antigo Iguatemi) seguiu aberta.

O principal problema era que o projeto apresentado ao Corpo de Bombeiros era diferente do que foi construído, tendo a necessidade de uma reforma urgente para que os espaços possibilitassem melhores condições para os espectadores. Algumas decisões judiciais permitiram que as salas do Pátio Maceió e do Shopping Farol reabrissem. A coordenação do Centro Cultural explicitava que só reabriria após estar apto a isso.

A justificativa dada pelo SESI para o fechamento do espaço foi que dentre as exigências estariam obras que não teriam como serem feitas, caso do reforço num dos pilares de sustentação do prédio, cujo espaço era alugado para o seu funcionamento. Assim, acrescido a um movimento de corte de gastos, optou-se pelo desligamento do espaço.

Acompanho este caso porque o fechamento das salas de cinema ocorreram duas semanas depois de eu ter voltado para Maceió. Lamentei muito que o Centro Cultural SESI tivesse sido fechado por tê-lo frequentado, ainda que nunca tenha podido ir ao "Corujão", que tanto propagandeei em terras gauchas como excelente proposta cultural. Bem acostumado com o Guion e, especialmente, com as salas da Casa de Cultura Mário Quintana, em Porto Alegre, não fui ainda ao cinema desde que voltei a Maceió.

Deste processo, o que mais me chamou a atenção foi que os projetos para construção de espaços eram feitos, aprovados, mas os empresários não os cumpriam. Não vi em nenhuma matéria jornalística por aqui, mas seria bem interessante investigar como se faz isso. Continuo com a pulga atrás da orelha me perguntando se não haveria uma espécie de fábrica de projetos que facilitassem sua aprovação pelos órgãos oficiais, na certeza de que na prática ele não importasse tanto. 

Vejam bem, não estou acusando ninguém, mas explicitar como isso ocorre, quais os trâmites burocráticos a se seguir, e que expliquem como pode a parte levada a órgãos oficiais é diferente do que vem ser colocado na prática é essencial, ainda mais que a segurança de várias pessoas pode ficar em risco.

Além disso, como imaginar que um local reinaugurado há 9 anos não tenha tido sequer uma fiscalização para verificar as condições de segurança? - ainda que ele tenha passado por melhorias ao longo do tempo. Assim como, custa-me entender como espaços mais novos como os cinemas dos shopping Farol (Lumière) e Pátio Maceió (Centerplex) passaram incólumes. Ah, será que não há um padrão que estes grupos empresariais deveriam seguir para a construção de suas salas no Brasil?

Também é bom lembrar que de órgão oficial e cinema nos últimos anos em Maceió, a grande notícia foi a "carteirada" de policiais, que foi proibida no Pátio Maceió pela gerente do espaço, que foi levada presa por vários deles por conta disso. Isso gerou uma repercussão negativa, além de reuniões com produtores culturais locais para analisar melhor esta situação, que criou certo constrangimento no comando policial do Estado.


MOBILIZAÇÃO
Há mobilização via mídias sociais para a reabertura do Centro Cultural, com reunião marcada para a próxima terça-feira, com 1.561 pessoas confirmadas. Dentre as propostas, está a do SESI ocupar outro espaço, mantendo os projetos culturais então realizados na Pajuçara. Uma pessoa sugeriu o que antes era o antigo Cine Cidade, que após ser ocupado por uma rede de lojas de varejo, segue sem qualquer utilização - ainda que no início houvesse uma promessa de que pudesse ser utilizado para algo, como um cineclube. Além disso, Marcos Sampaio, que afirmou ter segurado o quando pôde a manutenção do espaço pelo SESI, afirmou que segue tentando articular novos parceiros para a reabertura do lugar ou do projeto. 

Por enquanto, tudo não passa de especulações. De certo, a perda de um espaço importantíssimo para a cultura em Alagoas, que se ficarmos restritos ao cinema, ficará refém das escolhas das redes de cinemas nacionais - com exceção da Sessão de Arte do Maceió Shopping, funcionando a mais de dez anos, com sessão de um filme bem conceituado todo sábado, a partir das 11h.

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