segunda-feira, 20 de maio de 2013

[Viagens] Do Poty ao Parnaíba e mais conhecimento

Abandonei o El Dorado, mas ainda não os relatos de viagens. Ainda mais quando esta vem de um convite até então inesperado e para um Estado que, apesar de conhecer tanta gente procedente dele, eu nunca sonhara em pisar. Nenhum conceito pré-concebido, falta de maior conhecimento sobre ele mesmo.

Isso acaba refletindo dificuldades gerais do Brasil. Uma delas é quanto às alternativas de transporte. Tomei um susto ao ver as opções de voos de Maceió para cá, ambas no Nordeste. Alternativas com conexões bem justas ou com conexões bem largas, até 10 horas de espera em outro lugar no meio do caminho, que não fica na região.


Brasília foi o ponto de parada. Aeroporto ainda em obras, muita, mas muita gente mesmo, apesar de ainda ser segunda-feira, a ponto de ter tráfego no banheiro (!). Olha que lá é capital da Copa das Confederações, o jogo de abertura, e de outras 7 partidas da Copa do Mundo FIFA do ano que vem...

Outro problema é a falta de olhos dos grandes centros do país para locais mais periféricos, como se fossem Estados em desenvolvimento dentro do desenvolvido Brasil, uma divisão dentro da divisão. Ouvimos muito muito pouco sobre o Piauí, acho que lembro de algo recente apenas os protestos contra o aumento da passagem de ônibus. Assim, muito pouco sabemos sobre o Estado porque os meios de comunicação, que produzem a partir do eixo Rio-São Paulo, pouco falam sobre as demais partes do país.

Tudo bem que o meu convívio com pessoas vindas de Teresina garantiram no início do ano um bom papo sobre os mitos e as histórias locais, ainda assim, muito pouco quando comparado com o conhecer de perto. Bastaram poucas horas de passeio por aqui para perceber isso.


Na cidade, os caminhos são próximos, com pouco tempo entre as localidades sem ser na hora de forte trânsito - um mal que vem com o crescimento das cidades, esta próxima a 1 milhão de habitantes. Porém, há uma divisão também nela. Um trecho mais elitizado e outro mais popular que, ainda assim, é bem mais limpo que em outras cidades por aí e com maior atratividade, casos de praças e quadras.

O Piaui mais velho, na verdade Poty velho, região de pescadores que moravam aqui quando Teresina foi reconhecida como uma cidade, foi o que mais me interessou - apesar do nome da cidade ser em homenagem à imperatriz Teresa Cristina. Disseram-me que na disputa entre litoral e interior, escolheram montar uma cidade no meio do caminho e assim teria sido feito.

Ainda há a vila de pescadores, homens jogando dominó nas calçadas, meninos brincando descalços nas praças e interessantes propostas de desenvolvimento. Há cultivos de hortaliças de forma comunitária e a reformulação do mercado de artesanatos com barro, em que as oficinas ficam ao fundo das lojas, algumas delas com acesso para os turistas.

Fomos já no final do expediente, ainda assim, as pessoas foram muito hospitaleiras e responderam as perguntas feitas. Numa das oficinas, a mais cheia delas, encontramos um senhor sem camisa. Perguntei se ele tinha aprendido a fazer aquilo pela herança familiar e ele respondeu que aprendeu após casar com a mulher, produzindo geralmente das 7h da manhã às 10h ou 12h da noite!!! Não é à toa que havia tantas peças ali. Ah, a mulher é piauiense, mas ele saiu do Ceará para cá.

Já ia esquecendo de contar a visita ao mirante do encontro dos rios Poty e Parnaíba, local que também sofreu bastante com a seca que assolou esta parte de cima do país, a ponto de estar numa condição, com ilhotas, que seriam normais para o período mais forte sem chuvas, em setembro.

Lá tem um restaurante flutuante, para quem deseja comer pescado tirado ali, de rios que estavam bem limpos - especialmente quando comparo com as lagoas de Alagoas -, afinal ainda não há lixo industrial sendo jogado neles.

Neste espaço há uma loja para vender lembranças dos mais diversos tipos e a escultura do Cabeça de Cuia, que acabei não tirando foto, mas é uma importante lenda piauiense. Os pescadores dizem que o encontram no rio. A história é a seguinte:

Sua família era necessitada. Um certo dia, chegando para almoço, sua mãe lhe serviu, como de costume, uma sopa rala, com ossos, já que faltava carne na sua casa frequentemente. Nesse dia ele se revoltou, e no meio da discussão com sua mãe, arremessou o osso contra ela, atingindo-a na cabeça e matando-a. Antes de morrer sua mãe lhe amaldiçoou a ficar vagando no rio e também como efeito da maldição, Crispim ficou com a cabeça muito grande, do tamanho de uma cuia, daí o nome "cabeça de cuia". A mãe ainda lhe disse que sua perna penduraria até que ele se relacionasse sexualmente com sete Marias virgens.

Assim, a estátua tem ele gigantesco, com a cabeça de cuia e sete virgens o cercando. Quer dizer, uma ou outra já grávida, o cercando.

Ah, é preciso dizer que a cidade está realmente crescendo, caso da ampliação de um dos shoppings, cuja obra não pode ser fotografada nem filmada, sabe-se lá o porquê; um novo parque, inaugurado este mês, o Potycabana, que passei perto, mas estava com os portões fechados - ao menos no caminho que percorri a pé; e uma ponte estaiada, como aquela de São Paulo que tem o nome de um da Folha, só que com um mirante lá no alto para ver a cidade por inteiro.

Por fim, realmente, a cidade é muito quente. Saí de Maceió, no início da manhã, com uns 21º C, passei por Brasília com 18º C e cheguei aqui com uns 35º C - por mais que o relógio da rua anunciasse 38º C. Ao menos, a experiência dos verões em São Leopoldo-RS e seu calor que chegou a superar os 40º C, servem para aclimatação para uma viagem como esta.


No fim, tomar de novo cajuína, ainda que com gosto bem pior que da última lembrança - e com muita saudade da tubaína -, broa de milho e bolo de macaxeira após tanto tempo, além de queijadinha. Coisas que a padaria lá perto de casa não tinha - vá lá que já comi brasileiras, pelo menos...

Dependendo dos compromissos, pode ser que eu volte a escrever algo sobre esta viagem ao longo dos dias. Caso não, ao menos a apresentação de quarta-feira à noite eu postarei por aqui. Até mais!

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