Voltando de trem para casa, estava distraído mexendo no celular e até então pouco percebera da conversa dos quatro roqueiros que sentaram ao meu lado. Haviam subido algumas estações depois. Até que percebi que um deles falava da Revolução Russa para a mulher que estava do lado, aparentemente, namorada ou esposa.
- ... Na verdade, a Revolução ocorreu ainda durante a Primeira Guerra Mundial.
Ela deu uma olhada de lado, mexeu a cabeça. Aparentemente, o assunto não estava chamando sua atenção naquela noite de sábado. Ele, empolgado, continuava a falar sobre aquele período histórico:
- ... Expulsarem o czar e a czarina, que foram julgados e mortos, mas uma pessoa teria sobrevivido e até hoje ninguém sabe direito como morreu: Rasputin.
Ela chegou até a olhar para o que eu estava mexendo no celular. Mão nos cabelos, demonstrando cansaço e, também, que não estava tão interessada no assunto. Algumas respostas vinham com um balançar de cabeça. Até mesmo os "ah!' de admiração vinham sôfregos.
Por algum motivo, creio que ele percebeu que o assunto não estava rolando. Lembrou a ela que até mesmo a Disney fez um desenho, "versão totalmente equivocada, é claro", sobre a Revolução Russa. Mas não teve jeito. Ela também não lembrava do desenho.
O jeito foi falar das viagens para festivais de rock, incluindo o fracassado Metal Open Air, que era para ter ocorrido no Maranhão no ano passado e até eu conhecia a história - e, quase que naturalmente, balancei a cabeça negativamente ao citarem. O casal desceu duas estações antes da minha, graças a ela.
- Não é a nossa?
As conversas seguintes realmente tinham sido mais interessantes.
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