quarta-feira, 22 de agosto de 2012

[Por Trás do Gol] Para ajudar o Sapucaiense

O que faz com que cerca de cem pessoas enfrentarem um super calor, mais de 30º em pleno inverno gaúcho, para ver uma partida de uma Copa criada para manter os times do Rio Grande do Sul atuando? Ah, do lado do time da casa, o saldo de um rebaixamento em 2012 da Divisão de Acesso (segunda divisão) para a Segunda Divisão (terceira divisão)? Calor no inverno do Sul, segunda divisão que é terceira...

Enfim, aparentes contradições à parte, havia decidido voltar a olhar os torneios em andamento da Federação Gaúcha de Futebol, 2ª Divisão e Copa Hélio Dourado, para assistir algumas partidas dos times próximos. Por conta de outros compromissos, não pude acompanhar o Aimoré, aqui de São Leopoldo, na sua primeira partida no Estádio Cristo Rei pela estreante Terceirona gaúcha. Porém, vi que o Grêmio Esportivo Sapucaiense, da vizinha Sapucaia do Sul, jogaria numa quarta-feira à tarde contra o São José, de Porto Alegre.

Para quem não pode conhecer o clube, o Sapucaiense disputou a Copa do Brasil deste ano, empatando com a Ponte Preta no Passo D'Areia, em Porto Alegre, a partida de ida por 0 a 0 e perdendo em Campinas por 5 a 2 na primeira fase da competição nacional.

Achava que seria na quarta da semana passada, mas percebi que seria só no dia 22, mas iria. Ainda que não soubesse informação alguma da partida, para além que aconteceria às 15h de hoje no Estádio Artur Mesquita Dias. O clube não tem site oficial, ao menos eu não o encontrei, e não havia nada na internet sobre o assunto. Procurei no regulamento da Copinha e vi que a FGF obrigava que o ingresso fosse, no mínimo, R$ 5,00, e eu não imaginaria que cobrassem caro - por mais que o time deva precisar muito.

O ESTÁDIO
O Estádio Artur Mesquita Dias fica em frente à placa,
que avisa que os sócios precisam pagar
Tinha visto pelo Google Maps onde ficava o estádio, bem perto da Estação Sapucaia de trem, é só descer pela Avenida Mauá e seguir reto da praça mesmo. Além disso, também tinha visto como era a entrada, praticamente sem identificação e com um estádio "típico" de clube de bairro. Só isso já garantiria uma nova experiência para mim.

Chegando lá, confirmo a imagem que tinha na internet e o preço mais barato: R$ 10,00 (inteira) e R$ 5,00 (meia para estudantes e idosos). R$ 5,00 pagos e entrei sem precisar passar por roleta, só entregando parte do ingresso, e, melhor ainda, sem precisar ser revistado pelos dois policiais que estavam ali até aquele momento.

Realmente uma cancha pequena. Do lado de cá, o bar (que vende cerveja mesmo em dias de jogos, sem problema algum!), que também serve como museu de troféus do clube. Andando mais um pouco, à direita, estava o espaço destinado aos torcedores do time visitante, uma arquibancada de madeira. Do lado esquerdo, alguns espaços para guardar as coisas do clube, um banheiro sem qualquer presença de vaso sanitário, com uma árvore frondosa em frente. Um pouquinho mais adiante, um jogo de arquibancadas de cimento e outra menor, de madeira/ferro, mas coberta. "Espaço destinado aos sócios" e com faixas da torcida organizada deles, a "Camisa 12".

Sócios estes que hoje, como avisava um papel na entrada do estádio, teriam que pagar a entrada caso quisessem ver o jogo. Era "para ajudar o Sapucaiense". Um senhor de idade, sócio do clube, tentava convencer alguém a ir ao jogo também: "Ah, você sabe que eles decidiram que sócio também tem que pagar né? Eu até poderia, como idoso, pagar cinco pila, mas paguei 10 para ajudar o Sapucaiense".

Voltei para perto da entrada e enquanto os jogadores "aqueciam", um torcedor, sentado numa cadeira de plástico atrás do gol para aproveitar a sombra de uma árvore, dizia ao outro: "E precisa fazer aquecimento? Tá tudo queimado já!". Não parei de ouvir reclamações com o estranho calor em pleno agosto durante todo o resto da partida, afinal, poucos eram os lugares cobertos.

Antes de iniciar a partida, ainda deu para ouvir uns gritos de "Vâmo, Zeca!" vindos da entrada. Torcida organizada do São José, também conhecido como Zequinha, que saíra de Porto Alegre para acompanhar o time, que atualmente disputa a 1ª Divisão gaúcha, na Copinha. Como imaginava, eram cinco jovens rapazes que gritavam o tempo inteiro - inclusive, arranjando uma discussão com outros três, sapucaienses, que assistiram ao primeiro tempo em cima de um muro atrás do outro gol. Torcida organizada com faixa, vários gritos de incentivo e xingamentos hilários à "bergamota" que apitava o jogo: "Os Farrapos".

PARTIDA
Fiquei ao lado da torcida do Sapucaiense. Crianças, mulheres, pessoas mais velhas e muito mais novas. Sem problema algum, com direito a um "boa tarde" quando uma senhora chegou no estádio e várias conversas de famílias que têm nas partidas do clube um ponto de encontro. Tivemos até o goleiro catando as sandálias no chão de um dos rapazes em cima do muro durante a partida. ESPETACULAR!

Mas indo ao jogo, o primeiro tempo foi bem movimentado. Ainda que com muitos bicões para um lado e para o outro, e com um sol escaldante, Sapucaiense e São José criaram chances reais de gol. Numa delas, por volta dos 23 minutos, o Sapucaiense fez excelente jogada na direita, com Rafinha cruzando para o atacante Paraíba só empurrar ao gol, a dois metros da linha. O que ele fez? Mandou no travessão e a bola subiu.

Deixo os comentários de dois senhores que estavam sentados à minha frente:
- Se apavorou.
- Viu que tava tão fácil. A goleira desse tamanho ainda...

Aos 35 minutos, o Sapucaiense teve que fazer uma substituição porque um dos jogadores pareceu ter recebido um tapa ou um soco no rosto e, aparentemente, perdeu algum dente com isso. No final da etapa inicial, após uma jogada errada do ataque rival, o São José armou um bom contra-ataque e o lateral-esquerdo apareceu sozinho na frente dos zagueiros, driblou o primeiro, viu o goleiro adiantado e chutou por cobertura. A bola raspou o travessão e foi para fora.

O gordinho e sua prancheta
Nem os quatro minutos anunciados pelo gordinho que cumpria as funções de quarto árbitro e de delegado da partida deram jeito de mudar o marcador - que eu não reparei se existia. O primeiro tempo terminou mesmo em zero a zero e com todo mundo correndo para pegar algo para beber. Só um dos gandulas que não parava, um senhor que seguia com seu show de embaixadinhas na linha central do gramado. Antes de iniciar a partida ele deu mais de uma volta em torno do campo sem deixar a bola cair!


A segunda etapa teve mais lances curiosos. Primeiro, que todo mundo, dos cinco torcedores organizados do São José - a torcida deles devia ter cerca de 25 pessoas hoje - aos demais do Sapucaiense reclamando bastante do trio de arbitragem. Um torcedor do Sapo passou a "cornetar" todo mundo também, a ponto de um jogador do time olhar para o lado e pedir mais calma.

Melhor lugar não há para cornetar o auxiliar
Aos 15 minutos, o São José, que tinha jogadores aparentemente mais fortes que o rival, principalmente a dupla de ataque, fez boa jogada pela esquerda e após um cruzamento forte viu o seu centroavante perder um gol na frente da trave (ou da goleira, como queiram).
O jogo seguia brigado, inclusive com gente cornetando o árbitro e seus dois auxiliares, até que aos 29 minutos o Sapucaiense realizou uma boa jogada pela esquerda e Rafinha recebeu na frente do goleiro rival. Sapo 1, São José 0.

Confesso que eu comemorei o gol. Por mais que o São José-POA seja azul e branco como o CSA, basta eu ver o patrocínio da empresa do presidente da FGF na camisa que me dá raiva. Foi esse, inclusive, o motivo para eu ter comprado a camisa do Cruzeiro e não a deste clube de Porto Alegre na semana passada. Ah, o presidente que se preocupa em realizar cruzeiros para aprontar a temporada seguinte, mas parece esquecer os clubes "menores".

Deixei de me escorar no muro, que balançava a cada passada de vento ou encosto de uma perna, e passei a  experimentar a sensação de torcedor de cancha, propriamente dita. Entre fotos e filmagens, terminei nos últimos minutos no alambrado, vendo a pressão do São José, em especial numa série de faltas próximas à área do Sapo. O goleiro do Sapucaiense saiu muito bem do gol e fez boas defesas ao longo da partida.

No final, já na casa dos 40 minutos, ainda deu tempo para a "bergamota" marcar uma falta na entrada da área para o Sapucaiense. Bateram a falta, a bola desviou no meio do caminho e entrou mansamente no gol. Muita comemoração, com direito a coisas como: "vai continuar a marcar faltas para eles, juiz"; "ô bandeira, avisa ao Noveletto (presidente da FGF)".


Sapucaiense 2, São José 0. Placar que não mudou nem com os mais de cinco minutos mostrados pelo 4º árbitro/delegado da partida. Os jogadores da casa têm o vestiário ao lado da torcida e pararam para cumprimentar amigos e familiares. Algo muito incomum para os dias atuais e que comprovam que foi muito boa a escolha de sair de casa nessa tarde de forno gaúcho. Olha que eu devo ter esquecido de algumas boas histórias [Veja aqui mais fotos e aqui mais vídeos].


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