domingo, 22 de julho de 2012

[Baú do Por Trás do Gol] A despedida do Rei Pelé

Como o movimento das figuras "tradicionais" do OléOlé está pequeno, preciso explicar que "A despedida do Rei Pelé" significa que este texto tratará do meu último jogo, até não sei quantos anos, no maior estádio de Alagoas.

Estou de partida para bem longe daqui. Farei Mestrado numa universidade em São Leopoldo, cidade gaúcha. E desde que tive a minha partida definida sabia que tinha que ir ao último jogo do CSA em casa comigo aqui em Maceió.

Para esta quarta-feira, as coisas foram feitas diferentes. Em vez do meu pai comprar os ingressos no Centro, eu é que fui. Em vez de comprarmos numa determinada loja na Rua do Comércio, tive que comprar na loja do patrocinador esportivo do Azulão, que fica na Rua do Livramento. Em vez de irmos com certa antecedência ao estádio, fomos 40 minutos antes dele começar. Em vez da tranquilidade natural no caminho, a notícia que um tiroteio acabara de ocorrer metros depois da rua que percorríamos antes de adentrarmos em outra.

A única coisa que não mudou foi o desrespeito ao torcedor. Tivemos que enfrentar uma fila grande porque a diretoria não confia na torcida tresloucada que tem. Mesmo com oito derrotas em 11 jogos, estávamos lá enfrentando uma demora porque só colocaram à disposição uma catraca para adentrarmos no estádio. Fora os companheiros torcedores que não encontraram ingresso na bilheteria porque a diretoria não sabe a torcida que tem, que a pior das hipóteses os jogos em casa têm 1500 pagantes.


Fomos para o lugar em que escolhemos desde o ano passado. Ficava na frente na torcida organizada, do lado oposto, ainda sem os bancos que cobrem o estádio. Um lugar mais "família", mas que não deixa de gritar, xingar e apoiar o time.

Confesso que tinha uma sensação estranha toda vez que lembrava que era a última vez - pelo menos nos próximos dois anos - que pisaria novamente no Rei Pelé. Por pior que seja a situação, novamente, do CSA; por mais que o time tenha grandes possibilidades de cair após subir neste ano.

O Azulão marcou o primeiro, jogou bem toda a etapa inicial e dava mostras de que me daria uma despedida gloriosa, mas o gol adversário no final da primeira parte do jogo mostrara que receberia como despedida uma amostra do que foram esses onze anos por aqui.

O presidente foi fortemente pressionado no intervalo de jogo, nas cadeiras, num setor que ficava bem abaixo de onde estávamos. Ele não gosta que a torcida reclame! Impossível! Um torcedor balançou na frente dele dois reais e ele queria pegar...

No segundo tempo, a cada mudança do técnico o time piorava ainda mais. Dio, o único jogador de verdade, profissional, do time, desaparecera graças a uma mudança no intervalo. O time tinha chances de chute na entrada da área, mas ninguém. isso mesmo, NINGUÉM, acertava um chute normal. Tudo para fora ou petelecos rasteiros. 

O Sport Atalaia se aproveitou para virar o jogo. No finzinho do jogo, garantiu a vitória de pênalti com gol de Anderson, volante que estava no CSA no início do campeonato que, perto dos jogadores atuais, é pelo menos um Pirlo em seus bons tempos, dado os seus bons chutes.

Não lembro se o meu primeiro jogo quando retornamos de Aracaju, em 2000, fora contra o Sport Recife ou se foi contra o Confiança. Mas assim como naquela partida que me deixara com ódio mortal do torcedor leonino perdemos por uma diferença de dois gols. Acho que do mesmo jeito que odeio o Corinthians, sejam lá de onde for, vou ter muita raiva de Sports.

Enfim, o Rio Grande do Sul me aguarda. E a pressão para saberem para quem torcerei, Grêmio ou Internacional, já começou na entrevista da seleção de Mestrado... O negócio no RS é bem sério. A minha ideia é visitar os dois estádios ao menos uma vez cada ainda neste ano, para observar, enquanto jornalista, e sentir, enquanto apaixonado por futebol.

Enquanto a viagem, na segunda, não chega, só me restar lembrar as alegrias, tristezas, xingamentos, gritos, comemorações e comentários realizados ao longo dos últimos onze anos em companhia, na maior parte das vezes, do meu pai, a quem com orgulho pago o ingresso desde o ano passado. Para o Rei Pelé sempre fomos a pé e na maior parte desse tempo minha avó materna morava numa rua atrás do estádio.

Talvez por causa disso, o Estádio Rei Pelé sempre tenha representado para mim mais que uma obra arquitetônica, era o que fazia da nossa relação de pai-filho aquilo que deveria ser "clássico": os dois jogam juntos em casa, assistem os jogos pela TV e vão ao estádio juntos. 

Os jogos no Rei Pelé farão falta. O CSA fará falta, por mais tristezas que tenha me dado. O meu pai assistindo os jogos comigo, acima de tudo, fará falta...

05 de março de 2011, publicado no blog Por Trás do Gol (Olé Olé).

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