domingo, 27 de maio de 2012

[Em busca do El Dorado] Mais uma "primeira" aula

Há algumas semanas fui convidado para dar aula no curso de Especialização em Televisão e Convergência Digital, que é organizado pelo grupo de pesquisa o qual faço parte. Quer dizer, (como aqui é um espaço meu, eu posso dizer isso) fui convidado porque as opções anteriores não poderiam. Juntando a necessidade de recursos extras, após as despesas extras e inesperadas deste mês de maio, com a importância de ter uma maior prática docente, topar era algo necessário.

Não seria a minha primeira experiência do outro lado numa sala de aula de Comunicação - ver a outra aqui. A diferença é que ao contrário dos dois semestres de Radiojornalismo 1, no ano passado, estariam na minha frente profissionais, com quase toda certeza com maior experiência na lida jornalística do que eu.

Acordar cedo (6h) significa ver isso do lado de fora
Seriam oito horas de trabalho, em dois turnos, para dar aula sobre "Regulamentação e Políticas de Comunicação". Confesso que, por ter contato frequente com o tema - desde a Graduação, seja no movimento estudantil ou na produção acadêmica - não tinha muita preocupação em falar durante tanto tempo sobre o assunto. Além do que geralmente o que ocorre é que falta tempo para que eu possa apresentar as minhas pesquisas. Um assunto tão necessário quanto esse, então...

Porém, uma coisa é eu ficar tranquilo e outra bem diferente é o "ambiente externo" me garantir tamanha tranquilidade. Em meio a milhões de tarefas cotidianas, acrescidas a problemas de ordem técnica que o fazem "perder" dez dias de trabalho, alguns auxílios podem parecer, e virar, aquela pressãozinha. Por mais que a intenção não seja essa.

Se a minha ideia inicial era trabalhar no plano de aula durante toda a sexta-feira, acabei iniciando isso alguns dias antes. Realmente, oito horas para falar para um mesmo conjunto de pessoas e sobre um "mesmo" assunto é muita coisa.

As minhas primeiras definições foram sobre como dividir a aula, de maneira a não ficar muito cansativo e, principalmente, muito cansativo. Porém, mesmo que imaginando que as pessoas não tenham tanto conhecimento sobre políticas de comunicação no Brasil - pelas barreiras mais que óbvias -, tentar estabelecer um diálogo com os alunos, que já deveria ser "obrigatório" para qualquer professor, é ainda mais para um assunto que nos puxa um pouco do lado manifestante social.

Afinal, o que adianta ter um posicionamento político-ideológico bem definido, ser contra a centralização do conhecimento, mas falar, falar e nada de saber se o "público" entendeu pelo menos a ideia central dessa discussão, não é mesmo?

DIVISÃO DA AULA
Eles também regulam a comunicação...
Pensando na melhor forma de apresentar o assunto, resolvi dividir a aula em duas partes. Na primeira, tratar sobre as políticas de comunicação no mundo, tendo como referencial dois "entendimentos" diferentes sobre a comunicação: o Reino Unido (com forte presença pública) e os Estados Unidos (com forte presença do mercado). Depois disso, mostrar como esse debate passou a ser incluído - e depois "esquecido" - nas discussões dos países em desenvolvimento e subdesenvolvidos, com claro destaque às discussões da UNESCO. De maneira a finalizar com a situação de "bungas-bungas" e Murdochs do mercado transnacional atual.

Ah, é bom explicitar que antes de iniciar pra valer, tentei mostrar através de outras políticas públicas a importância de as mesmas existirem. O caso do Estados Unidos, que tem órgão regulados da comunicação desde a década de 1930 (!) serviu para alicerçar as diferenças entre censura, como querem os grandes meios brasileiros, e a necessária regulação de bens/serviços públicos, como é o espectro eletromagnético e deveria ser o direito de se comunicar.

Confesso, mais uma vez, que imaginei que talvez não fosse possível apresentar tudo o que tinha preparado para a primeira metade da aula, a manhã. No final das contas, até que consegui controlar bem o tempo e apresentar tudo o que tinha determinado. Fomos todos almoçar para voltar em uma hora (é, a "folga" é curta mesmo).

Para a segunda parte, à tarde, até mesmo pelo cansaço que tenderia a aparecer pós-almoço, encaixei alguns vídeos - caso do "Liberte sua voz", do Intervozes, e da edição final do "Direitos de Resposta". Por mais que uma boa parte da turma participasse das discussões, a tarde foi de maior "monólogo" por este que vos escreve. Acabei tendo que, por uma das poucas vezes - senão a primeira -, tendo que improvisar mais para cumprir com um tempo mais esticado do que seria necessário.

Nas horas do "improviso", nada como apresentar um programa de debate sobre a mídia toda a semana. Das pautas mais expostas em redes sociais àquelas que só quem acompanha mais de perto pode saber, determinados acontecimentos ajudaram a tentar incentivar uma discussão, inclusive, sobre a produção jornalística. Até onde a culpa é do profissional e até onde é da empresa de comunicação, que atua seguindo pouca regulamentação e quase sem regulação?

A divisão entre as políticas públicas de comunicação no Brasil foi a seguinte: primeiro, traçar um rápido histórico, parando no Código Brasileiro de Telecomunicações, que merece mais atenção, para uma especialização em TV e Convergência, que as regulamentações de rádio, por exemplo - mas que também foram tratadas.

Após o intervalo - antes as aulas do Mestrado tivessem água e lanche também... - prossegui com analisando o capítulo da Constituição sobre a Comunicação Social e as leis sobre a TV fechada, que "interferem" diretamente no negócio do audiovisual no Brasil. Além de, por fim, traçar a situação atual com uma TV aberta em pleno processo de digitalização, mas com leis que têm Telecomunicações (CBT) e Audiovisual  (Lei do Audiovisual/2011) no nome, mas são restritas a determinados setores comunicacionais. Assim como, as promessas do ministro das Comunicações sobre um novo marco regulatório.

O comentário final dos alunos foi que precisariam ler mais sobre o assunto, já que não é debatido normalmente. Espero ter conseguido chamar a atenção para os problemas tanto em termos de concorrência quanto em termos de pluralidade na difusão de informações que temos mais no Brasil que em outras partes do mundo.

O cansaço da chegada em casa - que ainda teve que esperar para ser "diminuído" por conta de outras obrigações - valeu a pena por mais uma experiência docente.

*A apresentação, com os vídeos utilizados, está na internet. Ver post anterior ou http://prezi.com/xzp3vm6gchql/especializacao-em-televisao-e-convergencia-digital/

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